Você dança sobre todas as imagens distorcidas que tenho de ti, ballet russo de emoções corroídas pelo tempo, marcações pelo palco á meia luz do meu sorriso desvairado de tanto desespero de só te ver acima de mim iluminada por todos os holofotes tal como uma deusa a qual devo me ajoelhar e adorar como os demais, de não lhe ter mais além das lembranças que você abandonou em alguma dessas composições improvisadas ao piano, onde se deixa levar para qualquer outro lugar onde ninguém possa saber quem é você, que só saibam do seu corpo em movimento preciso com as notas, dentro do espetáculo que você mesma criou e que ninguém mais pode participar, a não ser como mero espectador de mãos atadas, livres apenas para os aplausos.Nem sabe do próximo ato que escrevo para você, o próximo que irá encenar com estes teus passos desprovidos de culpa, tão leves quanto a falsidade deste momento, da certeza dos aplausos admirados com a tua beleza que encobre essa tua pele de cobra, esses teus lábios de veneno, teus olhos de gelo que se derretem com o mínimo estímulo, mas que voltam sempre ao estado sólido de congelamento. Ciclo natural que não pode ser interrompido.
Aproveite este penúltimo ato sem se preocupar com o seu último.
Os panos caírão sobre o teu corpo e sobre teu corpo cairá mais do que minhas lagrimas, esse é o final do ato que preparo, em breve, em silêncio, aguardando pelo tempo em que recuarei da minha distância. Para você, para nós. Mas dance, por enquanto.
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